A Verdadeira Reforma

O Pastor Filipe Schneider profere o sermão do dia 26 de outubro de 2025 na Comunidade Evangélica Luterana de Nova Odessa/SP.
O Pastor Filipe Schneider profere o sermão do dia 26 de outubro de 2025 na Comunidade Evangélica Luterana de Nova Odessa/SP. 

            Hoje celebramos o Dia da Reforma — uma data que, à primeira vista, parece celebrar a vida de um homem.

Um homem que realizou grandes feitos.

Um homem que não se preocupava muito em ser politicamente correto.

Um homem que ensinava de um modo diferente dos mestres de sua época.

Um homem determinado, focado em sua missão.

Um homem preso por causa de seus ensinamentos.

Um homem odiado por muitos, traído até por amigos.

Um homem cuja vida ainda impacta a sua e a minha.

E esse homem é Jesus Cristo.

Ah, você pensou que eu estava falando de Lutero?

Não me entenda mal! Damos graças a Deus por Martinho Lutero e por tudo o que o Senhor realizou por meio dele. Ele foi, sem dúvida, uma figura central na Reforma.

Mas a Reforma não é sobre ele.

Como um pregador já disse certa vez: “Lutero apenas varreu as teias de aranha que encobriam o crucifixo.” Ele recolocou Cristo e este crucificado no centro da pregação da Igreja. Porque, por incrível que pareça, às vezes a Igreja se desvia de seu caminho.

E então precisamos ser lembrados do motivo de estarmos aqui e do que realmente importa: Cristo e este crucificado.

Assim, a Reforma é, sim, um evento histórico — mas não apenas o que aconteceu há cerca de 500 anos, em Wittenberg. A verdadeira Reforma aconteceu há mais de 2.000 anos, no Calvário.

Os cravos que prenderam as 95 Teses de Lutero nas portas da igreja do castelo foram importantes. Mas os cravos que perfuraram as mãos e os pés de Jesus, fixando-o na cruz, foram infinitamente mais.

É na cruz que ocorre a verdadeira Reforma: a reforma do coração, quando o Espírito enviado por Jesus transforma pecadores em santos, moldando-nos novamente à imagem de Cristo.

E assim como o povo do tempo de Jeremias, o povo dos dias de Jesus e o povo dos dias de Lutero, também nós precisamos ser reformados.

Porque o pecado está sempre nos deformando.

O mundo está sempre tentando nos conformar à sua maneira.

E somos constantemente informados por aquilo que não é verdade.

E hoje, neste culto em que celebramos a Reforma, três jovens estão sendo confirmados. Essa palavra “confirmar” vem do latim confirmare, que significa tornar firme, fortalecer. E é exatamente isso que Deus faz conosco por meio da Sua Palavra e do Seu Espírito: Ele nos fortalece na fé que começou no Batismo.

Queridos confirmandos, vocês hoje confessam publicamente aquilo que Deus já começou em vocês quando foram batizados.

Mas percebam: essa confirmação não vem de vocês mesmos — vem de Cristo, que continua reformando e fortalecendo o coração de vocês.

Vocês foram deformados pelo pecado, como todos nós.

O mundo vai tentar conformar vocês aos seus valores.

E muita coisa — redes sociais, opiniões, ideologias — vai tentar informar vocês com “verdades” que não vêm de Deus.

Mas o Espírito Santo quer que vocês sejam confirmados em Cristo: firmes na fé, enraizados na Palavra, sustentados na graça do Batismo.

Ser confirmado, portanto, não é o fim de um caminho, mas o início de uma vida de reforma contínua — uma vida sendo, dia após dia, moldada e reformada pela cruz de Cristo.

Por isso, sempre precisamos ser reformados pela Palavra de Deus — individualmente e como Igreja.

Diversos “ismos” nos afastam de Cristo crucificado: modernismo, secularismo, racionalismo, pietismo, institucionalismo, e até mesmo o luteranismo, se este se tornar um orgulho vazio, como o dos judeus que disseram a Jesus: “Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de ninguém.”

Mais uma vez: não me entenda mal! Damos graças a Deus por Lutero e por pertencermos à confissão de fé que leva seu nome.

Mas precisamos fazer uma pergunta bem luterana: “O que significa isso?”

Ser luterano significa seguir Lutero?
Significa apenas não ser católico romano?

Infelizmente, muitos pensam assim.

Mas ser luterano significa algo muito mais profundo: ser um pecador reformado por Cristo crucificado.

Não reformado por mim mesmo, nem por minhas obras.

Não reformado por minha razão ou força.

Nem reformado pelo que sinto no coração.

Mas reformado por Cristo crucificado.

Ser luterano, portanto, é compreender que a cruz não é apenas um acontecimento histórico, mas uma realidade presente.

Cristo continua reformando a nós e a Sua Igreja hoje.

Ser luterano significa saber e crer que o  Santo Batismo não é algo que fazemos, mas um lavar dos pecados, porque pela água e pela Palavra somos unidos a Cristo crucificado (Romanos 6).

Ser luterano significa saber e crer que a pregação do Evangelho não é mera informação ou instrução moral, mas o poder de Deus para a salvação (Romanos 1.16), que grava Cristo crucificado em nossos corações (Jeremias 31).

Ser luterano significa saber e crer que a Santa Ceia não é apenas uma refeição simbólica, mas o verdadeiro corpo e sangue de Cristo crucificado, dados e derramados por nós para perdão, vida e salvação.

E se fomos unidos a Cristo em Sua morte, então também seremos unidos com Ele em Sua ressurreição — reformados à Sua imagem, para viver uma vida nova.

Não mais deformados pelo pecado, conformados ao mundo ou informados por mentiras, mas reformados em Cristo.

Cristo crucificado.

Ser luterano também é levar Cristo crucificado ao mundo, onde quer que Deus nos coloque, com quem quer que convivamos, em tudo o que fazemos.

É viver, como disse Jesus, como pessoas libertas pelo Filho (João 8). Perfeitamente livres. Lutero explicou isso de modo magistral: “Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas, e não sujeito a ninguém; e, ao mesmo tempo, servo de todos, sujeito a todos.” Usamos, portanto, nossa liberdade não como licença, mas como amor. Servindo, doando, perdoando. Entregando nossa vida assim como Cristo entregou a Sua por nós.

Mas nem todos querem esse tipo de vida ou esse tipo de Deus. Preferem um Deus forte e poderoso, e não um Deus crucificado. E querem para si uma vida igualmente triunfante e sem cruz.

Satanás quer nos fazer crer que força e fraqueza são opostos — que não se pode ser, ao mesmo tempo, poderoso e crucificado.

Mas Cristo crucificado nos mostra o contrário: que Deus nunca foi tão forte como quando estava na cruz, que Seu poder se aperfeiçoa na fraqueza, que o Todo-Poderoso se fez Filho do Homem porque nós somos filhos de homens, que Ele tomou carne porque nós somos carne, que nasceu sob a Lei porque nós estávamos sob a Lei, e que carregou nossos pecados na cruz, morrendo para que tivéssemos vida. Cativo, para nos libertar.

Ser luterano, enfim, é reconhecer que não podemos viver sem esse Cristo — Cristo crucificado.

Sem Ele, não há vida verdadeira aqui e agora, nem vida eterna.
A vida sem Cristo é apenas uma imitação de vida.
Nenhum paraíso terreno pode nos satisfazer.

Mas Cristo crucificado, ressuscitado e ascendido significa que nós também, já agora, participamos de Sua vitória.

Já estamos perdoados.

Já estamos reconciliados com Deus.

Já temos paz.

E nada — nenhum terror, decepção, sonho frustrado, ruína econômica, dor ou enfermidade — pode tirar isso de nós.

Como cantou Lutero:

 

“Se vierem roubar

os bens, vida e o lar –

que tudo se vá!

Proveito não lhes dá.

O céu é nossa herança.” (Castelo Forte, v.4) 

Será que nos desviamos da mensagem central? Preocupados demais com números, popularidade e crescimento?  Talvez sim — como sempre foi e sempre será.

Por isso, precisamos ser constantemente reformados. Constantemente conduzidos de volta a Cristo crucificado. Não apenas uma vez, mas sempre.

Em última análise, somos luteranos pela mesma razão que somos cristãos: pela graça, por meio da fé, em Cristo crucificado.

A Reforma é, sim, sobre um homem. Mas esse homem é Jesus Cristo.

Graças sejam dadas a Deus!

Em nome do Pai, e do (+) Filho, e do Espírito Santo. Amém.

MENSAGEM DO DIA DA REFORMA

TEXTOS: Jeremias 31.31-34; Romanos 3.19-28; João 8.31-36

Pastor Filipe Schneider – 26.10.2025

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O bom pastor Jesus

Todas essas palavras do Salmo 23 são promessas. Promessas do seu Bom Pastor. Não há “talvez”. Não há condições impostas. Só promessas. Só o que Ele fez e o que Ele ainda fará por você. Então, confie. Não em si mesmo, mas na Palavra dEle. Não em si mesmo, mas na cruz dEle. Na fidelidade dEle. Na constância dEle.

Você já parou para pensar em que momento da vida Davi escreveu o Salmo 23? 

Será que foi após a vitória contra Golias? Ou talvez depois de sobreviver à perseguição implacável de Saul, quando passou dias e noites literalmente andando pelo vale da sombra da morte? 

Quem sabe, foi após o episódio com Bate-Seba, quando cometeu adultério e ainda tentou encobrir seu pecado tirando a vida de Urias. Nesse momento, sua alma certamente clamava pelo perdão restaurador de Deus, ansiava pelo refrigério que só o perdão pode trazer, precisava ser conduzida de volta às veredas da justiça. 

Ou talvez tenha sido depois da rebelião de seu filho Absalão, quando Davi precisou fugir do próprio filho e se refugiar entre os filisteus. Um tempo sombrio, em que o Senhor, sem dúvida, preparou uma mesa para ele na presença de seus adversários. 

Ou foi quando Samuel o ungiu como rei de Israel? 

Ou, quem sabe, no fim da vida, ao olhar para tudo o que havia vivido, ele refletiu: Como eu sobrevivi a tudo isso? Eu nem deveria estar aqui! Por causa dos meus pecados — ou dos pecados dos outros — eu já deveria estar morto há muito tempo! Mas o Senhor foi meu pastor o tempo todo. Mesmo quando parecia ausente, mesmo quando eu era um tolo pecador, Ele estava comigo. Certamente a bondade e a misericórdia me acompanharam todos os dias da minha vida. 

Querido irmão, querida irmã, não sabemos em que momento da vida Davi escreveu o Salmo 23. Mas agora convido você a olhar para a sua própria vida. Com certeza, você já passou por momentos difíceis — assim como Davi. Não importa se você é jovem ou mais velho. Lembre-se das decisões erradas que tomou, dos perigos que enfrentou, das vezes em que se sentiu perdido, das situações em que se rebelou contra Deus. 

Quais foram os seus Golias, seus Sauls, suas Bate-Sebas e seus Absalões? 

Você realmente acredita que se não fosse pelo cuidado e proteção de Deus você deveria estar aqui hoje, vivo? Depois de tantos erros e pecados, você se sente digno de ser chamado filho de Deus? 

O fato é que quando olhamos com sinceridade para os momentos escuros da nossa vida, percebemos como é bom ter um Pastor que cuida de nós. 

Davi sabia o que era ser pastor. Ele conhecia bem a rotina: suportar o sol escaldante, proteger as ovelhas dos lobos, cuidar das feridas, buscar as perdidas, lidar com as dóceis e com as rebeldes, encontrar pasto verdejante e águas tranquilas. 

Ao olhar para toda a sua história, Davi percebeu que o Senhor sempre esteve ao seu lado, como um pastor está com suas ovelhas. 

Ele lhe dava a Lei, quando era necessário confrontar sua natureza pecaminosa, e depois lhe oferecia o alimento refrescante do Evangelho — o perdão e a vida. 

Deus o buscava quando se desviava, o fortalecia quando estava fraco, o protegia quando ameaçado.  

E assim Davi reconheceu: em todos os momentos, Deus cuidou dele. Por isso, pôde afirmar com confiança que a bondade e a misericórdia o acompanharam por toda a vida — e que ele habitaria na casa do Senhor para sempre. 

Queridos irmãos, somos como Davi. 

Somos inconstantes, tolos, inclinados a procurar pastagens que parecem mais verdes. Somos frágeis, como ovelhas sem pastor. 

E, como Davi com Bate-Seba, às vezes pensamos que certos pecados não têm perdão. Mas é justamente nesse momento que precisamos lembrar: Deus é maior que o nosso coração. 

Mesmo que o seu coração o condene, ele não tem a última palavra — Deus a tem. Ele conhece o seu coração muito melhor do que você. Conhece seus medos, suas falhas e suas lutas. E mesmo assim, Ele é o seu Bom Pastor. 

Ele é o seu Pastor, não porque você é bom — mas porque você é pecador. 

Ele cuida de você, não porque você é forte — mas porque você é fraco. 

Ele sabe que você precisa de perdão e de vida — e só Ele pode dar isso. 

Então, quando a condenação for a única voz que você ouvir, ouça a voz do seu Pastor que diz: 

"Não se turbe o seu coração. Eu te perdoo." 

Tenha confiança. 

Foi essa confiança que deu a Davi a certeza, no final de sua vida, de que o Senhor o havia guardado. 

E essa confiança não veio de Davi, mas da Palavra do Senhor — da voz do Bom Pastor, que é 

poderosa para criar fé no coração. 

Querida congregação, ouça a voz do Bom Pastor e confie. Você está seguro, porque Jesus diz: 

“Eu sou o Bom Pastor.” 

O Pastor de Davi. O seu Pastor. Ouça a sua voz e siga-o. 

No seu pasto, há alimento bom. Há água que refresca. Há segurança contra o lobo. Há perdão. Há vida. 

E mesmo que você não queira o pasto que Ele oferece, Ele está pronto a dar mais do que você precisa — seu cálice transbordará. 

O mundo pode ser assustador, cheio de inimigos. Mas é exatamente aqui, neste mundo, que Ele prepara uma mesa para você. E nesta mesa, Ele te dá seu Corpo e Sangue — alimento que perdoa, sustenta e fortalece. 

Exatamente aqui, neste mundo, que Ele também o conduz com sua vara e seu cajado — sua Lei e seu Evangelho — que te guiarão. 

Você não precisa temer o mal. Nem mesmo o vale da sombra da morte. Porque Ele passou por esse vale e venceu. E Ele vai te conduzir pelo mesmo caminho. 

Hoje, mais uma vez, o seu Bom Pastor está te dizendo: “Sim, meu filho, minha filha — Minha bondade e misericórdia te seguirão todos os dias da sua vida. Mesmo quando você não as enxergar, elas estarão ali. E sim, você habitará na minha casa para sempre.” 

Todas essas palavras do Salmo 23 são promessas. Promessas do seu Bom Pastor. Não há “talvez”. Não há condições impostas. Só promessas. Só o que Ele fez e o que Ele ainda fará por você. Então, confie. Não em si mesmo, mas na Palavra dEle. Não em si mesmo, mas na cruz dEle. Na fidelidade dEle. Na constância dEle. 

Querido filho de Deus, ouça a voz do seu Pastor. Siga-o, por onde Ele te conduzir. Pois Ele é o Seu Bom Pastor. E você é o seu cordeiro. Amém.

MENSAGEM DO 4º DOMINGO DE PÁSCOA

TEXTO: Salmo 23

Pastor Filipe Schneider – 11.05.2025

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