O bom pastor Jesus

Todas essas palavras do Salmo 23 são promessas. Promessas do seu Bom Pastor. Não há “talvez”. Não há condições impostas. Só promessas. Só o que Ele fez e o que Ele ainda fará por você. Então, confie. Não em si mesmo, mas na Palavra dEle. Não em si mesmo, mas na cruz dEle. Na fidelidade dEle. Na constância dEle.

Você já parou para pensar em que momento da vida Davi escreveu o Salmo 23? 

Será que foi após a vitória contra Golias? Ou talvez depois de sobreviver à perseguição implacável de Saul, quando passou dias e noites literalmente andando pelo vale da sombra da morte? 

Quem sabe, foi após o episódio com Bate-Seba, quando cometeu adultério e ainda tentou encobrir seu pecado tirando a vida de Urias. Nesse momento, sua alma certamente clamava pelo perdão restaurador de Deus, ansiava pelo refrigério que só o perdão pode trazer, precisava ser conduzida de volta às veredas da justiça. 

Ou talvez tenha sido depois da rebelião de seu filho Absalão, quando Davi precisou fugir do próprio filho e se refugiar entre os filisteus. Um tempo sombrio, em que o Senhor, sem dúvida, preparou uma mesa para ele na presença de seus adversários. 

Ou foi quando Samuel o ungiu como rei de Israel? 

Ou, quem sabe, no fim da vida, ao olhar para tudo o que havia vivido, ele refletiu: Como eu sobrevivi a tudo isso? Eu nem deveria estar aqui! Por causa dos meus pecados — ou dos pecados dos outros — eu já deveria estar morto há muito tempo! Mas o Senhor foi meu pastor o tempo todo. Mesmo quando parecia ausente, mesmo quando eu era um tolo pecador, Ele estava comigo. Certamente a bondade e a misericórdia me acompanharam todos os dias da minha vida. 

Querido irmão, querida irmã, não sabemos em que momento da vida Davi escreveu o Salmo 23. Mas agora convido você a olhar para a sua própria vida. Com certeza, você já passou por momentos difíceis — assim como Davi. Não importa se você é jovem ou mais velho. Lembre-se das decisões erradas que tomou, dos perigos que enfrentou, das vezes em que se sentiu perdido, das situações em que se rebelou contra Deus. 

Quais foram os seus Golias, seus Sauls, suas Bate-Sebas e seus Absalões? 

Você realmente acredita que se não fosse pelo cuidado e proteção de Deus você deveria estar aqui hoje, vivo? Depois de tantos erros e pecados, você se sente digno de ser chamado filho de Deus? 

O fato é que quando olhamos com sinceridade para os momentos escuros da nossa vida, percebemos como é bom ter um Pastor que cuida de nós. 

Davi sabia o que era ser pastor. Ele conhecia bem a rotina: suportar o sol escaldante, proteger as ovelhas dos lobos, cuidar das feridas, buscar as perdidas, lidar com as dóceis e com as rebeldes, encontrar pasto verdejante e águas tranquilas. 

Ao olhar para toda a sua história, Davi percebeu que o Senhor sempre esteve ao seu lado, como um pastor está com suas ovelhas. 

Ele lhe dava a Lei, quando era necessário confrontar sua natureza pecaminosa, e depois lhe oferecia o alimento refrescante do Evangelho — o perdão e a vida. 

Deus o buscava quando se desviava, o fortalecia quando estava fraco, o protegia quando ameaçado.  

E assim Davi reconheceu: em todos os momentos, Deus cuidou dele. Por isso, pôde afirmar com confiança que a bondade e a misericórdia o acompanharam por toda a vida — e que ele habitaria na casa do Senhor para sempre. 

Queridos irmãos, somos como Davi. 

Somos inconstantes, tolos, inclinados a procurar pastagens que parecem mais verdes. Somos frágeis, como ovelhas sem pastor. 

E, como Davi com Bate-Seba, às vezes pensamos que certos pecados não têm perdão. Mas é justamente nesse momento que precisamos lembrar: Deus é maior que o nosso coração. 

Mesmo que o seu coração o condene, ele não tem a última palavra — Deus a tem. Ele conhece o seu coração muito melhor do que você. Conhece seus medos, suas falhas e suas lutas. E mesmo assim, Ele é o seu Bom Pastor. 

Ele é o seu Pastor, não porque você é bom — mas porque você é pecador. 

Ele cuida de você, não porque você é forte — mas porque você é fraco. 

Ele sabe que você precisa de perdão e de vida — e só Ele pode dar isso. 

Então, quando a condenação for a única voz que você ouvir, ouça a voz do seu Pastor que diz: 

"Não se turbe o seu coração. Eu te perdoo." 

Tenha confiança. 

Foi essa confiança que deu a Davi a certeza, no final de sua vida, de que o Senhor o havia guardado. 

E essa confiança não veio de Davi, mas da Palavra do Senhor — da voz do Bom Pastor, que é 

poderosa para criar fé no coração. 

Querida congregação, ouça a voz do Bom Pastor e confie. Você está seguro, porque Jesus diz: 

“Eu sou o Bom Pastor.” 

O Pastor de Davi. O seu Pastor. Ouça a sua voz e siga-o. 

No seu pasto, há alimento bom. Há água que refresca. Há segurança contra o lobo. Há perdão. Há vida. 

E mesmo que você não queira o pasto que Ele oferece, Ele está pronto a dar mais do que você precisa — seu cálice transbordará. 

O mundo pode ser assustador, cheio de inimigos. Mas é exatamente aqui, neste mundo, que Ele prepara uma mesa para você. E nesta mesa, Ele te dá seu Corpo e Sangue — alimento que perdoa, sustenta e fortalece. 

Exatamente aqui, neste mundo, que Ele também o conduz com sua vara e seu cajado — sua Lei e seu Evangelho — que te guiarão. 

Você não precisa temer o mal. Nem mesmo o vale da sombra da morte. Porque Ele passou por esse vale e venceu. E Ele vai te conduzir pelo mesmo caminho. 

Hoje, mais uma vez, o seu Bom Pastor está te dizendo: “Sim, meu filho, minha filha — Minha bondade e misericórdia te seguirão todos os dias da sua vida. Mesmo quando você não as enxergar, elas estarão ali. E sim, você habitará na minha casa para sempre.” 

Todas essas palavras do Salmo 23 são promessas. Promessas do seu Bom Pastor. Não há “talvez”. Não há condições impostas. Só promessas. Só o que Ele fez e o que Ele ainda fará por você. Então, confie. Não em si mesmo, mas na Palavra dEle. Não em si mesmo, mas na cruz dEle. Na fidelidade dEle. Na constância dEle. 

Querido filho de Deus, ouça a voz do seu Pastor. Siga-o, por onde Ele te conduzir. Pois Ele é o Seu Bom Pastor. E você é o seu cordeiro. Amém.

MENSAGEM DO 4º DOMINGO DE PÁSCOA

TEXTO: Salmo 23

Pastor Filipe Schneider – 11.05.2025

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Sob as asas de Jesus

Martinho Lutero teria dito: "Sempre que Deus constrói uma igreja, o diabo constrói uma capela ao lado." Assim, para cada profeta verdadeiro, há um falso profeta contradizendo a mensagem divina.

— Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os mensageiros que Deus lhe manda! Quantas vezes eu quis abraçar todo o seu povo, assim como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! (Lucas 13.34)

Ao lermos as Escrituras Sagradas, percebemos uma impressionante consistência: 

1) a rebeldia e pecaminosidade do ser humano  

2) a paciência e amor inabaláveis de Deus.

Deus enviou profetas ao Seu povo incansavelmente, chamando-os ao arrependimento e à restauração. Homens como Samuel, Elias, Eliseu, Isaías, Jeremias, Ezequiel e tantos outros foram enviados. Mas qual foi a resposta do povo? Eles não apenas ignoraram os profetas; foram além, rejeitando-os violentamente. Como ouvimos hoje sobre Jeremias: se a mensagem não agrada, a solução é matar o mensageiro.

Assim também ocorre no Novo Testamento. Paulo descreve aqueles que andam como inimigos da cruz de Cristo: Eles vão para a destruição no inferno porque o deus deles são os desejos do corpo. Eles têm orgulho daquilo que devia ser uma vergonha para eles e pensam somente nas coisas que são deste mundo (Filipenses 3.19). Contudo, Deus, em Seu amor fiel, não desiste do Seu povo. Ele continua chamando, buscando, salvando.

Mas por que as pessoas rejeitam a Palavra de Deus? Algumas razões se destacam. Primeiramente, porque os falsos profetas estão sempre por perto. Martinho Lutero teria dito: "Sempre que Deus constrói uma igreja, o diabo constrói uma capela ao lado." Assim, para cada profeta verdadeiro, há um falso profeta contradizendo a mensagem divina. No tempo de Jeremias, enquanto ele anunciava a necessidade de arrependimento, os falsos profetas pregavam paz e segurança ilusórias. Qual mensagem seria mais fácil de ouvir?

Hoje, não é diferente. Para cada pregador que proclama a verdade, há outros afirmando que pecado não é pecado, que não precisamos mudar nada, que Deus apenas deseja nosso conforto. E essa é uma mensagem atraente, porque não exige arrependimento nem santidade.

A segunda razão para a rejeição da Palavra é a falta de memória espiritual; memória curta! Quando tudo vai bem, as pessoas esquecem de Deus e confiam em sua própria segurança. Quando tudo vai mal, duvidam do amor e cuidado divinos. Em ambos os casos, a última coisa que querem é um profeta chamando ao arrependimento.

Assim também foi com Jesus. Os fariseus disseram: — Vá embora daqui, porque Herodes quer matá-lo (Lucas 13.31). Eles queriam que Ele desaparecesse, pois Sua presença incomodava. Mas que tipo de Deus queremos? Um que nos deixe em paz, ou um que nos salve?

Na semana passada ouvimos sobre nosso Deus que veio lutar contra Satanás por nós e vencer. Jesus lutando no deserto contra as tentações do diabo. Nós gostamos disso. 

As leituras de hoje tocam mais de perto, revelando um Deus que não veio apenas para nos salvar de Satanás, mas também de nós mesmos—de nossa natureza pecaminosa, de nossas inclinações rebeldes e desejos destrutivos. E isso é algo bem menos confortável de admitir. Aqueles pintinhos que não queriam ficar sob as asas da galinha? Não era só Israel. Não eram apenas os fariseus. Era eu. Porque eu não quero me arrepender. Não quero abrir mão dos pecados que me agradam. Não quero a disciplina de Deus. Não quero ouvir que estou pensando, agindo, falando e desejando de forma errada. Prefiro os falsos profetas que prometem o mundo e dizem que meu pecado não é pecado, que está tudo bem... Mas será que está mesmo? 

Nosso Deus é o Deus que luta por nós, que veio para nos salvar não apenas de Satanás, mas também de nós mesmos, da nossa natureza pecaminosa e rebelde. Jesus não fugiu, mas seguiu Seu caminho até a cruz, onde pagou por nossos pecados. Como um pai amoroso disciplina seus filhos para seu bem, Deus nos chama ao arrependimento para nos dar vida verdadeira.

Mesmo diante da ameaça imposta pelos fariseus, Jesus não foi embora. Ele permaneceu e cumpriu Sua obra redentora. Ele continua presente hoje, reunindo Seu povo sob Suas asas. A transformação que Ele opera em nós começa agora, através do arrependimento, do Batismo, da Palavra e da Santa Ceia. Ele nos sustenta na fé e nos fortalece para resistirmos aos enganos deste mundo.

No final da leitura de hoje, Jesus diz Eu afirmo que vocês não me verão mais, até chegar o tempo em que dirão: “Deus abençoe aquele que vem em nome do Senhor!” (Lucas 13.35). Cantamos essa mesma expressão na liturgia da Santa Ceia, confessando que Cristo não nos abandonou, mas está presente em meio ao Seu povo.

Os problemas ainda virão. Satanás não desistirá de nos atacar. Mas em Cristo temos refúgio seguro. Como Paulo escreve em Romanos 8.38-39: Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor. 

Nosso conforto não está no fato de que nós amamos a Deus perfeitamente, mas na certeza de que Deus nos ama com todo o Seu coração. Por isso, Ele nos chama ao arrependimento, nos leva à cruz, nos alimenta com Sua Palavra e Sacramento, e nos conduzirá para casa no Último Dia.

Que essa confiança encha nossos corações e nos dê forças para permanecer firmes na fé, sabendo que em Cristo, o Deus que nos ama de todo o coração, estamos debaixo das asas de seu amor. Amém.

MENSAGEM DO 2º DOMINGO NA QUARESMA

TEXTOS: Lucas 13.31-35; Jeremias 26.8-15; Filipenses 3.17-4.1

Pastor Filipe Schneider – 16.03.2025