Luteranos comemoram hoje 491 anos da Reforma Protestante
A data do protesto de Martinho Lutero terá celebração especial
Luteranos comemoram hoje os 491 anos da Reforma Protestante. A data marca o protesto do monge católico Martinho Lutero, que defendia que o perdão era oferecido graciosamente
por Deus e a salvação não devia ser cobrada pela Igreja. Em Novo Hamburgo, a celebração pela data ocorrerá às 20 horas, na Igreja da Ascensão, na Rua Bento Gonçalves, no Centro.
De acordo com o pastor Marcos Schmidt, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) da comunidade São Paulo, uma única comemoração será realizada entre IELB e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) da Ascensão. A programação incluirá reflexão sobre a importância de Lutero e uma contextualização sobre sua história.
Segundo o pastor, em 1517 o monge publicou 95 teses em que preconizou reformas no interior da Igreja Católica. Sua principal reivindicação era o fim das indulgências que eram cobradas dos fiéis em troca do perdão divino. “É um marco onde se torna público o seu protesto. Pode-se dizer que Lutero marca o início da idade moderna, pois ele coloca um fim na relação Igreja e Estado’’, explica.
REFLEXÃO - Conforme o pastor Paulo Moisés Nerbas, da IELB, a data comemorativa se torna
importante na medida em que ela oferece uma oportunidade de refletir sobre a verdadeira causa da reforma. Ele explica que este momento representa a angústia de Lutero em tentar achar respostas sobre o perdão de Deus. “Como posso ter um Deus misericordioso? Era o seu questionamento’’, destaca o pastor. Nerbas ressalta que a obra da reforma teve consequências em todo os setores da vida da comunidade. “Uma das preocupações de Lutero era preparar as pessoas para o Reino do Céu e para este mundo, principalmente por meio da educação’’, observa.
O Protestantismo se espalhou pela Europa e surgiram diversas religiões em oposição ao catolicismo. Hoje, segundo a Federação Luterana Mundial, existem 68,3 milhões de luteranos no mundo, sendo a África o continente onde mais aumenta o luteranismo. No Brasil, a cifra chega a quase um milhão de luteranos.
“O maior legado é doutrinário”
No inicio do século 16, o monge alemão Martinho Lutero proferiu três sermões contra as indulgências. Em 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas, fato que é considerado como o início da Reforma Protestante. O coordenador do curso de Teologia da Ulbra, Leopoldo Heimann, fala sobre a reforma luterana:
Quais foram as causas da reforma luterana?
Leopoldo Heimann - Muitas. Destaco apenas as três que considero as maiores: A valorização da Tradição Eclesiástica acima da Sagrada Escritura, que é a inspirada e infalível Palavra de Deus. A corrupção espiritual e moral do clero, incluindo padres, bispos e o próprio papa da época e a venda de indulgência, isto é, a compra a dinheiro do perdão dos pecados e da salvação eterna. Neste contexto entra Lutero.
Que legado ela deixou para os dias de hoje?
Heimann - O maior legado é doutrinário, ainda válido e pregado pela Igreja Luterana em nossos dias: os chamados “três solas”, em língua latina. A Sola Scriptura, isto é, somente a Escritura como fonte e norma da doutrina cristã; a Sola Gratia, isto é, somente por graça de Deus o pecador pode ser salvo; a Sola Fide, isto é, somente pela fé em Cristo (e não por obras ou méritos humanos) o pecador pode ser salvo.
Na sua opinião, independente de que credo seja, as religiões estão mais flexíveis em relação aos seus dogmas?
Heimann - Não são mais flexíveis. As grandes religiões universais não-cristãs continuam irredutíveis em seu fanatismo (até à morte). A mídia o comprova. Determinadas “seitas novas”, que se proliferam assustadoramente, manifestam desprezo, ódio e “fanatismo cego” em relação às outras igrejas ou religiões. São “cegos guiando cegos”.
Haveria, hoje, necessidade para uma nova reforma?
Heimann - A premissa sóbria e maior sobre esta questão, os teólogos manifestam no princípio latino: “Ecclesia semper reformanda esta”, isto é, a “igreja sempre é reformável”. Na Igreja Luterana não há necessidade de mudanças doutrinárias, mas há necessidade de reformas e adequações.
MARTINHO LUTERO
- Nascido a 10 de novembro de 1483 na cidade de Eisleben, Alemanha, Martinho Lutero foi filho de uma família de mineiros pobres.
- Estudou filosofia e Direito e no ano de 1505 entrou para a Ordem dos Agostinianos.Tornou-se monge, sendo ordenado sacerdote no ano de 1507.
- Defendeu tese de doutoramento em teologia no ano de 1512.
- Lecionou na cidade de Wittenberg, onde desencadeou, a partir de um estudo acurado das Sagradas Escrituras, um movimento que modificaria profundamente o cenário eclesiástico ocidental.
- Em 1517 publica 95 teses em que preconiza reformas no interior da Igreja Católica.
- Não encontrou acolhida para as suas propostas, sendo excomungado no ano de 1521.
- Proscrito pelas autoridades, acabou sendo seqüestrado por simpatizantes de suas idéias. Redige pequenos livretos e traduz a Bíblia para a língua alemã.
- Suas teses encontram eco e se espalham rapidamente graças à imprensa. Suas idéias são propagadas e desencadeia-se um movimento reformador em vários países europeus.
- Outros simpatizantes lideram iniciativas semelhantes na Suíça e na França.
- Defende e reivindica junto às autoridades a construção de escolas para rapazes e moças.
- Músico compõe inúmeros hinos com melodias e ritmos populares que se tornam verdadeiras prédicas evangélicas.
- Denuncia as injustiças sociais e cobra das autoridades mudanças na ordem econômica e social.
- Sua morte ocorreu em 1546 quando aconteceu o movimento de ruptura com a Igreja Católica Romana.
Publicado originalmente no Jornal NH (Novo Hamburgo - RS), página 7, em 31 de outubro de 2008.
Agradecemos à Leandro R. Camaratta, da Assessoria de Comunicação da IELB, pelo envio da matéria.